sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Sobrevida de um amor



O meu amor não me compreende
Contraria o que penso
Carrego em mim um estranho.

Das forças que me povoam
Das maiores,
O amor zomba de mim,
Se mantém vivo na solidão

Meus anseios não o acompanham
Meus princípios também não e
Muito menos os meus sentidos.

Por eles eu não amaria jamais,
Não esse amor.

Mas ele (o meu amor) teima e,
Por agora, ainda vence a minha razão,
Minha lógica, minha já poucas convicções.

O meu amor sobrevive na desordem,
Me levando a esperar,
Me envergonhando pois ainda vive
Diante dos olhos penalizados de quem nunca amou.


quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Tonturas (Fragmentos)



Pronto a cair a qualquer momento,
Distraído por um breve falsear da pisada da vez,
Roubada a firmeza dos passos pela tonturas
Eu pendo para os lados, rendido das minhas certezas.

O alto da minha cabeça em pane.
Antes não fui assim

Custo a contar os anos
E admitir minhas várias derrubadas
(de tanto derrubar ando meio tonto)
Já não me protejo das tempestades anunciadas
Ou carrego qualquer convicção.

Na verdade não sei muito bem quem sou
Sou um em muitos, primeiro,
Depois todos a tornarem-me inteiro de novo.

Telefonema na Avenida Santo Amaro


Atendo o telefone aflito
Pois enxergo embassado o número
Que no visor tenta me avisar quem é.
(já não sou capaz de dispensar os óculos).

Depois de ouvir sua voz
Digo um “alô” agressivo
Pois não sei dizer outro que prenuncie
Melhor a ausência de vínculos que
É preciso hoje imprimir em nossa conversa.

Vínculos entre nós não cabem mais.
São indesejados, agora,
Inconvenientes e até perigosos.
Outros prevalecem.

Não sei dizer a você um “alô” sem nossos vínculos,
(que não podem mais existir)
Aqueles que antes viviam, ponta a ponta,
Plugados em mim e em você,
Hoje cadáveres que me enredam teimosamente,
Soltos de um lado,
Desconectados,
Senão mortos quase sem prévio aviso,
Órfãos de pai ou mãe.




Sexo



A cada palavra gosto mais de mim
E também delas,
Apesar de infiéis:
Se entregam sem reservas a quem quer que as maneje,
Seguro da conquista,
Com o ritmo da graça e
A força da luxúria.

Tenho ciúme das minhas palavras
Pois não as posso reter.
Estão na minha boca e,
Promíscuas,
Na bocas de qualquer um.
São levianas pois não preferem,
Se deixam possuir por vários a cada instante.

Sou amante de palavras fáceis,
Que vivem nas madrugadas,
Encostadas nos postes da minha cidade,
Disponíveis em qualquer esquina.

Entro nelas e elas em mim
Desejo minhas palavras e elas também me desejam
Até que exaustas e satisfeitas
De mim marcadas, do meu tesão,
Durmam profundamente.

E eu também adormeço ao lado delas
Certos, eu e elas, de que amanhã nos amaremos mais
Ainda que eu encontre outras mais palavras
E elas infinitas outras mãos.






Sem Graça


Tua mão no entorno da minha cintura
Me viro e dou com você.

Fico sem-graça
Te querendo pertinho um tempo mais.

Pouso minha mão sobre a tua um segundo.

As mãos separadas rapidamente.
Os corpos nos mesmos lugares.

No ar o desentendimento entre um amor que começa
E uma amizade que não mais engana.

Prova


Preciso dormir.
Conto as horas que vão passando
Sem piedade.

Porque horas não me dão respostas?

Daqui a pouco preciso acordar
E esperar portas que se abram,
Ao acaso.

Digo ao destino que não me faça como sempre
(Quero intuir que não há movimento no ar).
E talvez nem me canse.

Cai uma chuva forte lá fora,
Sem avisar, debochada,
A encerrar um dia estranho
E tornar lavados os impactos dos calores e dos frios.

Não pedi que chovesse,
E nem seria preciso,
Ela viria de qualquer jeito,
Sem aguardar meu comando

Vejo que existe Deus.


Pouco sinto falta de Amor


Raramente sinto falta de amor,
(hoje foi um dia)
Mas não do amor cego de mim
(quero quem me veja e me enxergue)

Amor de amigo,
De primo, de irmão,
Amor de gratidão,
De amante bem casada,
Amor mesmo, de nada.
Amor que não espera.

Dispenso o amor que tem sistema testador próprio
E permanente para quantificar o seu amor,
E  que quando vai embora leva com ele as preciosidades da sua alma

Amor que mede e mensura, avalia e sentencia
Amor baseado em controle de qualidade.
Fico mesmo sem amor

Talvez um dia ainda possa amar
E tanto melhor se não fizermos planos, projetos;
Se não tivermos metas
(em geral para nos corrigir)

Eu existo e isso deverá bastar ao meu amor
E vice-versa.